A primeira atracção do percurso pelo Atlas foram as Gargantas do Todra, no vale que detêm o mesmo nome. No entanto, as Gargantas nunca chegaram a ser atracção, pelo menos para mim. Não quando as paisagens que antecederam foram tão arrebatadoras que tornaram aquela passagem estreita entre montanhas de 150 m de altura um tanto insignificante. É o rio Todra, que serpenteia pelas Gargantas, que dá vida ao vale. É ele que alimenta o imenso palmeiral que ali conseguiu crescer naquela terra árida e avermelhada, que camufla os imensos Kasbahs que constituem a cidade de Tinghir.
Mais adiante entramos no oásis fértil do vale do Dadès. Era dia de entrega de gás. À porta de cada casa encontravam-se duas ou três botijas de gás e uma criança entusiasmada, à espera de dar o sinal de alarme assim que avistasse o camião do gás. O camião vinha ao estilo marroquino, atulhado de garrafas cheias de gás, prontas para rebolar ao virar de uma curva mais apertada. Mais abaixo, junto ao rio, mães e filhas ceifavam o trigo para dentro de cestas de vime que seriam posteriormente carregadas pelo burro pela encosta acima. Já uma senhora com os seus 70 anos, com a cara queimada pelo sol e as costas vergadas até à cintura, trazia ela própria o cesto de vime. A julgar pelas costas, carregou aquele cesto a vida toda.
Mais a sul, já a caminho de Marraquexe, avistamos o Ksar mais famoso de Marrocos, hoje em dia habitado por apenas 12 famílias. Paramos a moto pouco acima de Ait-Ben-Haddou, junto a um dromedário que ali descansava. Ficamos a contemplar a aldeia, assim como a paisagem vermelho-ocre que a enquadrava, durante tempo indeterminado. Agora penso, não admira que tenha sido escolhida para rodar filmes como o Gladiador e Babel. Hoje é considerada Património Mundial da UNESCO.
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